terça-feira, 27 de outubro de 2009

REALIDADE E FENÔMENO

Todo fenômeno é o desdobramento de uma realidade. Em sendo assim, o fenômeno é a realidade, porém, enquanto fenômeno ele representa uma manifestação da mesma. Toda a apreensão de uma realidade é uma representação fenomenológica da realidade. Tal realidade pode ser absorvida, fenomenologicamente, por diversas perspectivas. Por exemplo, a olho nu posso observar uma realidade qualquer, como por exemplo, a água correndo por dentre as brechas do asfalto e indo em direção a uma vala qualquer. Tal realidade será uma representação. Ela não se encerrará numa afirmação qualquer, por mais que ela seja verdadeira. Não posso observar a olho nu, por exemplo, que a água é feita de duas partículas de hidrogênio e uma de oxigênio, no entanto, independente disso não poderei afirmar que esta é uma irrealidade, nem tampouco uma realidade de valor inferior. Pois eu poderia ser incauto o suficiente para pensar que a realidade que me é aparente é então por primazia a realidade única a que devo me reportar, uma vez que todo ser é dotado dos mesmos sentidos e meios para apreender a realidade e que tal realidade pode ser então observada por todos independente de outros níveis de percepção que ela possa demonstrar. No entanto, essa afirmação encerraria uma petição de princípio que se sustentaria apenas na autoridade de que aquilo que nos é primeiramente apreendido é a própria expressão da realidade. (Em verdade, tem-se como certo que o ser humano é o único capaz de apreender alguma realidade. - mesmo que eles, entre si, não comunguem com as mesmas noções adquiridas. (curioso, não?))

Poderia também pensar o oposto: uma vez demonstrado que dentro de um determinado fenômeno há diversas realidades, ou diversos fenômenos outros, a minha própria seria então mera ilusão, mero acidente da percepção. Mas estaria também incorrendo em erro, pois o fato de um fenômeno ser somente uma forma em particular de apreender uma realidade não implica necessariamente que as outras formas que me escapam são mais reais que a que é fruto de minhas percepções primárias.

Tal entendimento pode se analisado de maneira pouco criteriosa, gerar uma dualidade. Pois poderíamos colocar diante desse entendimento as seguintes questões: 1) sendo o aparato de percepção somente suficiente para apreender uma realidade fragmentada, independente dos meios que eu utilize para observar um fenômeno (vide o exemplo da água – pois com um microscópio posso aumentar meu poder de percepção e ver que a água é composta de três pequenas partículas) não deixarei de utilizar meus próprios aparelhos sensitivos primários, só que aumentados por meio de outra ferramenta. 2) o que me remete ao fato de que independente de quantos fenômenos eu possa abarcar dentro de uma realidade, nada me garantirá que terei uma representação da realidade em si mesma, mas apenas terei uma representação de uma realidade com um número maior de fenômenos descritos.

Porém, devo entender que, sendo o fenômeno uma representação da realidade, ele por mais que descreva muitas facetas da mesma não terá o poder de abarcar ela toda. O fato de ela ser um fenômeno automaticamente infere na limitação da infinita descrição dos fenômenos, na busca de um princípio mais básico até que se possa encontrar um princípio mais universal que possa expressar a realidade enquanto um fenômeno único e fixo. Tal entendimento, mesmo que distante (penso eu sinceramente que impossível de ser apreendido dada a sua limitação natural, pois para eu poder apreender todo o fenômeno teria que buscar nas causas mais primárias dos elementos da natureza, o que me levaria a buscar cada vez uma causa mais particular até que se chegue à questão da própria existência, da própria manifestação do fenômeno – e sendo os meios de percepção uma parte do próprio fenômeno, qualquer explicação que se dê para tal questão seria tão somente uma explicação tautológica, eis o que penso ser a limitação inerente à percepção) não nos dá autoridade também para definir que este princípio seja a representação fiel da realidade última, mas tão somente outra constatação da própria realidade.

Pois então, o mais ponderado quando se fala em realidade é entender os fenômenos de maneira holística, como complementares à própria realidade. A realidade não é a somatória de todos os fenômenos, porém dentro da realidade, os fenômenos são desdobramentos um do outro; e para entender a realidade é necessário entender a ligação que há dentre um fenômeno e outro.
Devemos considerar que, quando se fala em realidade se fala em fenômeno. Falar em realidade em si mesma é falar de realidade fora do fenômeno. É falar daquilo que está além da própria percepção.(e de qualquer uma)

Não há irrealidade no fenômeno, justamente por ele ser um desdobramento do real. Ele é o que aparece (o aparente), pois a realidade é em si mesma uma aparição.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Divagações VI

A partir do momento em que nos inclinamos a emitir um juízo sobre algo ou alguém, nos tornamos responsáveis por garantir – tanto a quem diz quanto a si mesmo – de que estamos, não obstante, com o deter de um conhecimento que se possa expressar, e não só isso, e que este venha a preencher as lacunas que se formam mediante determinado juízo ou afirmação.
Se eu afirmo que determinado alguém é, por exemplo, mal caráter devo demonstrar ser isso verificável, não somente por força da afirmação; pelo contrário, estaria sendo, no máximo, um caluniador, um que fala “da boca pra fora”. Ou seja, meu desinteresse para com a verdade emitida pelo meu juízo é igualmente mensurável a percepção e critério para formar um juízo sobre algo ou alguém.
Em sendo assim, me pergunto: que jurisdição eu possuo para formar juízo sobre algo qualquer se nem mesmo me debruço para entender os seus pormenores?

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Divagações V

Antes só do que acompanhado e mal compreendido.

Quanto mais próximos somos de alguém mais pensamos que o conhecemos. No entanto, quanto mais perto de algo estamos, mais dificilmente conseguimos tomar suas verdadeiras dimensões. Da mesma maneira que alguém colado a um muro enorme não terá noção de sua dimensão olhando-o de perto. Na mesma medida, a proximidade que temos de alguém nos torna míopes, nos faz enxergar apenas o que é conveniente, o que está mais evidente. Por isso algumas vezes é necessário o Distanciamento.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Divagações IIII

Entendo por Aura do indivíduo tudo aquilo em que, devido à sua presença, possa ocorrer algum fenômeno respectivo. Por exemplo, se num dia claro caminharmos e ao mesmo tempo prestando atenção quando se passa por objetos grandes, perceberemos que nosso corpo ao coincidir com a luz do sol gera uma sombra que, dependendo da posição em que estivermos (nunca experimentei fazer isso indutivamente) poderá ser maior ou menor. Bem, eis um exemplo de um fenômeno que envolve diretamente e indiretamente a pessoa e que dependeu dela para que se fizesse possível. Mas, para ficar mais claro, darei outro exemplo que também visa esclarecer a tentativa de encontrar uma posição que abranja os fenômenos possíveis de maneira holística. O cheiro que emana da pessoa, à distância em que sua voz pode ser ouvida; as partículas do som viajando pelo espaço, as partículas de cheiro que flutuam pelo ar; ambos envolvem o que denomino por aura.

São somente alguns exemplos, poderíamos, enfim, levantar centenas de fenômenos para demonstrar em exemplos, esse ponto fica a critério da curiosidade.
Evidente que, tendo em vista que não se pode denominar ao certo todo o fenômeno possível a que uma pessoa está sujeita penso que basta que nos certifiquemos de considerar todo e qualquer fenômeno que se possa provar que seja verdadeiro.

Os fenômenos que envolvem o sujeito podem ser destacados em dois: os passivos e os ativos. Os passivos são os que não dependem de sua apreensão e que se dão de forma natural e espontânea, como por exemplo, o som que emite o caminhar, ou mesmo a sombra que fazemos ao cruzar com uma luz qualquer. Há, no entanto, que se fazer aqui uma ponderação. É certo que o sol não incidiria e, consequentemente, não se formaria a minha sombra se eu não houvesse de forma deliberada ou não, me posto em direção a ele. Mas, devemos considerar este ponto como acrescido na questão para não incorrermos em erro. O fenômeno passivo é aquele que se dá simplesmente pela sua condição de existir, pois ele envolve seu corpo e tudo aquilo que dele possa emanar. Portanto, o seu existir já gera diversos fenômenos, eis aqui a passividade a que me refiro.

Os ativos se referem a tudo aquilo que, através de minha ação deliberada se fazem e que, sem a minha ação teriam sido pouco prováveis ou até mesmo improváveis. Este segundo remete a infinitas possibilidades assim como o primeiro, no entanto, em particular ele se estreita diretamente com o que diz respeito ao ser no mundo e suas ações conscientes diante dele. Ambos se dão de forma complementar, portanto a diferenciação em ativos e passivos se refere tão somente a uma classificação que permite uma melhor maleabilidade para tratar e diferenciar os conceitos, e não uma dualização.

(cont)

domingo, 20 de setembro de 2009

Divagações III

(...)

Mas, não parece satisfatório tal perspectiva, a consciência do ato não impede que o mesmo aconteça. O amadurecimento surge do entendimento e da experiência, nenhum antecede o outro.

Mesmo que eu não crie planos no pleno entendimento de que poderei me frustrar diante deles, isto me fará ser mais cauteloso e prudente na hora do mesmo, mas não garantirá que eu venha a conter-me, nem tampouco negar a mim mesmo em meu mais íntimo entendimento e impulso. Ou então, às avessas, caímos no paradoxo do modo dual de entender: mesmo que eu me esquive de fixar planos em que, assim, não me serão futuros contratempos, terei que fielmente seguir este entendimento à fim de não me contradizer. Quer dizer, meu novo plano seria não fazer plano algum.

Mas, penso que devemos ir mais além. Esqueçamos o fazer planos, mas esqueçamos também o não-fazer planos. De modo que possamos apenas Ser no Devir do mundo, nas contingências e sem precisarmos recorrer à subterfúgios que escapam ao meio termo, pois na medida em que nada falta ou excede, toda escolha é plena e de boa consciência.

domingo, 13 de setembro de 2009

Divagações II

Encontro-me em uma época de minha vida em que estou a fazer muitos planos, planos para pensar como eu quero que as coisas aconteçam em minha vida. Isto me levou a pensar que, muitos de nós – começando por mim mesmo – fazemos planos levando em consideração o nosso círculo social, ou seja, nossos amigos, nossa família, alguma pessoa que estamos tendo algum relacionamento; porém, eis que pensei: não seria um tipo de ilusão moldar nossos planos tendo em conta as outras pessoas que temos apreço? Vou explicar melhor. Penso que nesses planos fazemos contratos que são quase impossíveis de não serem quebrados. Quem nos garante que, mesmo sendo grande o sentimento que sintamos que eu e minha companheira, após algum tempo de convívio descubra que a relação não está mais dando certo, nossos interesses mudem e não nos separemos? Quem garantirá que, o plano de sair de casa e morar só ou com amigos ou companheira não será frustrado no dia de amanhã pelo simples interesse de mudar de opinião? Nada. Nada nos garante, nem mesmo nossos planos. Não podemos garantir que o futuro será da maneira que determinamos. Não quero com isso dizer que não devamos fazer planos, ter amigos ou uma companheira que compartilha com você dos mesmos objetivos. Isso seria insensatez demasiada. O que quero dizer é que, esse entendimento de que as coisas podem simplesmente, ao luxo dos condicionamentos, mudarem de perspectiva, é que temos que estar preparados, para que nossos alicerces não venham abaixo quando isso acontecer.

sábado, 12 de setembro de 2009

Intuição

Relatando uma coisa interessante, que penso que aconteça com muitas outras pessoas, em maior ou menor grau, mas que, no entanto, lhes passa despercebida. Há momentos em que estou refletindo sobre algo e muitas vezes, acabo sem encontrar uma resposta satisfatória a mim mesmo, seja por falta de conhecimentos acerca do assunto, ou porque determinado assunto ainda não esteja muito claro a mim – eis o porquê de eu me por á refletir -, acabo que, ponho-me a pensar em outro algo. Questionei-me certas vezes se seria esta uma atitude sensata, no sentido de que, se eu deixo de lado este algo que ainda não me é claro, estou abrindo mão de adquirir o entendimento sobre ele. No entanto, refletindo mais sobre isto, concluí que muitas vezes está é a melhor atitude a se tomar. Um fenômeno interessante que também penso não ser comum só a mim, é o de em determinado momento obtermos um esclarecimento sobre algo, que vem de maneira tão inesperada que nos dá a sensação de certa iluminação; a coisa em comum que após analisar estes momentos e tentar entender o porquê de eles acontecerem, percebi que muitas dessas “luzes” são, em realidade, àqueles pensamentos que em outro momento resolvi deixar de lado, e que, na verdade, nossa mente apenas estava digerindo-os e é por isso que muitas horas têm esses insights, são os momentos em que nossa percepção passa a discernir aquilo que antes não discernia.

"Penso 99 vezes e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho no silêncio e a verdade me é revelada." Einstein


Penso eu que se trata de um processo de nosso subconsciente, que trabalha, talvez, organizando os pensamentos, e tratando daquilo que nossa consciência não pode (ou pôde) tratar.

Me parece que, de alguma maneira nosso subconsciente trabalha com nossas informações adquiridas de forma consciente e as organiza, muitas vezes gerando conclusões que não conseguimos fazer de forma consciente. Eis a questão, o que pode ser esse mecanismo que engendra conclusões acerca de processos que se desenrolam no consciente, mas que, algumas vezes, se concluem no inconsciente? Eu particularmente não consigo aceitar a idéia de que somente o consciente é que é o responsável por organizar a informação sensível à que nossa mente é submetida. Inclusive vejo que essa noção é a mais comum e aceitada, mas, em muitos exemplos podemos verificar que existem processos pré-conscientes que determinam o entendimento que, normalmente, adquirimos de forma consciente.

Aqui cabe um questionamento interessante, que foi feito em um debate bastante salutar entre um camarada à qual farei a respectiva citação:
"Poderíamos conceder razão ao inconsciente sem torná-lo consciente? Não haveria sempre uma transfiguração na racionalização? Uma seleção, recortes, "geometrias", "equações", visões, cores, enfim "organização"? A aparência de uma casa organizada, (antes bagunçada na visão consciente da dona de casa) não é sentida de outra maneira pelas visitas? "
Glauber

Que em resposta bastante oportuna para ser citada:
Interessante questão, pois, o que realmente quero concluir é que, quando, por exemplo, através de um processo intuitivo chega-se a uma determinada conclusão, evidentemente você poderá através de todos os seus processos conscientes justificar essa conclusão e inferir a sua veracidade ou não.. Mas é aí que está a questão, mesmo sem esses processos conscientes aquele entendimento já estava pronto e delimitado... Percebe o que quero dizer? Obviamente que, no estrito do termo o que é inconsciente não pode ser consciente ao mesmo tempo, e que, quando se torna consciente já passou por diversos processos para tornar-se consciente, e é exatamente desses processos pré-conscientes que falo, que se dão independente de uma organização consciente.

Outro exemplo interessante é no caso da memorização. Perceba por exemplo que, ao ouvirmos muitas vezes uma música, acabamos decorando-a; poderíamos obviamente afirmar que, conscientemente nós decoramos àquela música, já que a ouvimos diversas vezes; no entanto, o mesmo acontece com aquelas músicas que não gostamos, e que, quando menos notamos, estamos cantando. Algumas vezes até nos surpreendemos por sabermos tanto daquela música se nem mesmo gostamos dela. Penso que isso acontece, pois, mesmo de maneira não consciente estamos a recolher informações sensíveis do ambiente, o que talvez nos permita termos intuições sobre coisas que, muitas vezes, não havíamos refletido a respeito.

A questão que fica é: seria a racionalização/raciocínio uma instância unicamente consciente? Ou talvez aconteçam processos fora do limiar da consciência que possam ser denominados como racionais? É para se refletir.

Ética - analisando

Não é enganoso afirmar que, em se considerando razoáveis condições de convivência que possibilitem uma moral imanente ao comportamento cultural, seria tranquilamente comum a todos a aceitação de que não se deve matar, da mesma maneira que havemos de concordar que também não se deve roubar a propriedade alheia. De certo que estas considerações podem ser feitas e respondidas por qualquer um que seja independente do tipo de instrução ou grau de reflexão que o mesmo tenha se prestado ao assunto. Este é uma reação básica do comportamento moral, não é necessário ser Ético para não desejar a morte de outrem, nem tampouco para não prezar pelo seu prejuízo ou sendo a si próprio o causador do mesmo. No entanto, a raiz do comportamento Moral distingue-se da noção do que é Ético. A Ética está relacionada com a análise, a reflexão e a prática; advém do pensamento filosófico, ao passo em que na moral a prevalência é a do pensamento cornuto, ou raciocínio simples, sendo no máximo um pensamento linear dedutivo – aquele que se atém a princípios axiomáticos que devem dar conta de toda e qualquer situação – que é possível através do acúmulo de conhecimento e através da memória.

Um que é Moral não pode ser Ético, na medida em que sua atitude é somente um impulso básico de reação mimética, uma repetição cultural. É fácil observar esta diferença quando se nota que há menos de cinqüenta anos atrás havia um tremendo abismo entre grupos sociais diferentes e que reinava uma forma de moral que impunha e defenestrava a outra, fazendo valer de uma moral que corroborava suas ações; foi assim com os negros, com as mulheres, com os homossexuais; atualmente a luta é em prol do direito dos animais, e, o que há em comum, apesar da mudança de perspectiva, é que, mesmo hoje estes grupos tendo assegurado certa parte dos seus valores e direitos, isso é corroborado por uma moral e não por uma acepção ética. O próprio fato de que tenhamos que assegurar os direitos e defender valores já infere diretamente na ausência da ética e da prevalência da moral. Por exemplo, se eu afirmo que todos merecem direitos iguais por serem iguais, por mais que eu tente encontrar um algo que eu possa universalizar para assegurar de alguma forma essa igualdade de direito, não poderia fazer isso senão afirmando uma moral que a corrobore; visto que, de início afirmo que para garantir a igualdade de direitos tenho que encontrar um fator universal, visto que, além de ser uma busca sem fim, é parcialidade tentar encontrar a igualdade na universalização em detrimento à diferença, a alternância, ou seja, parte-se de um erro que tenta tornar-se generalização para definir uma suposta identidade de igualdade; esta atitude é essencialmente antiética, apesar de ser naturalmente aceitável por qualquer um. Tratar uma questão com equidade não significa que terei de usar para todos o mesmo peso e a mesma medida. A universalização está na medida da Condição, e é a partir dessa que poderemos traçar uma unidade de ação ética. Cada um ao passo de suas necessidades e limitações, eis a medida do justo que é, por conseguinte, a medida do ético. Para ser ético tenho que ser justo, mas não poderei ser justo se eu não for ético.

Uma diferença relevante é: a moral é temporal, se delimita e se funde num espaço de tempo, tão quando se faz condições para que ela se construa e permaneça, até que um dia se dissipe como é de sua natureza. Há evidentemente exemplos de morais que permaneceram e permanecem a existir desde há muito tempo, um exemplo desse prolongamento é a moral cristã, que promulga seu reinado ainda em grande parte do globo, de forma direta ou indireta. Dentre outras tantas morais religiosas.

No que concerne à discussão acerca dos juízos morais, eles normalmente caem no relativismo temporal e cultural – eis sua raiz intrínseca. Ou seja, sendo a Moral relativa á certa época ou lugar, mesmo engendrando-se na noção de que é justo ou injusto bom ou mau, se limita à cartilha que forma seu estatuto social, seus costumes sociais juntamente com suas práticas e noções passadas de geração para geração.

A Ética nesse sentido é um agente atemporal. Ela analisa as condições para que uma ação tenha o estatuto de certo ou errada, justa ou injusta, não se limitando a determinação cultural que a promulga, podendo lançar um olhar mais amplo e irrestrito.


Valores ambientais, Ética e Moral Cultural

Tendo em vista a impossibilidade de protelar o problema do meio-ambiente atualmente o assunto é foco de debates á nível mundial, de uma forma que nunca teria sido possível anteriormente; uma razão é que, explorar o meio ambiente sempre – e principalmente atualmente – foi lucrativo, e está na essência da nossa cultura ocidental a idéia do homem como sendo aquele que tem o poder de dominar a natureza, de dar a ela finalidade e utilizá-la como assim quiser. O que garantiu - e ainda garante – por tanto tempo essa “supremacia” é a idéia de que o ser humano por ser racional – sendo a racionalidade uma instância superior que dá ao ser humano poder e direito de dominar – detém essa supremacia e superioridade, juntamente com a idéia de que o ser humano é um ser divino, e, portanto, um ser de uma extirpe superior diferente da animalidade encontrada no mundo e nas diversas espécies e manifestações. Mesmo esta última sendo apenas defendida por um grupo restrito, a primeira é amplamente defendida: a de que a Razão nos eleva além de nossa natureza animal.

Esses planos de longo prazo se demonstraram não só frágeis como também amplamente inverossímeis e falaciosos. O ser humano não só é um animal, como também depende do mundo tão quanto à sobrevivência das outras espécies como um todo. Com a destruição dos ecossistemas que interagem de maneira holística, toda a vida animal, humana e não humana – vai sofrendo conseqüências e perdas, eis o perigo iminente do aquecimento global. O ser humano está começando a entender de maneira fria e realista que sua irresponsabilidade com suas ações, vão trazer altos prejuízos – além dos que já nos trouxe - e muitos deles irrevogáveis.

É preciso elevar o debate para além da questão Moral, da questão dos valores ou dos benefícios. A questão moral se limita na avaliação das ações tendo em vista o valor que atribuímos à determinada ação. Não preciso considerar ser errada a destruição de uma mata virgem ou uma espécie que vive nela para me ater no pensamento de que não vou fazer aquilo, simplesmente porque, se procuro ser justo devo considerar a questão além das minhas inclinações pessoais sobre aquele assunto. Exemplificando, eu posso ser uma pessoa que admira fazer uma trilha em meio a uma paisagem selvagem, e que eu contemple a natureza em todas às suas dimensões e, dessa forma, jamais me inclinaria a tomar uma atitude que cause algum dano àquele lugar. Ou talvez ao contrário, eu ao ver a floresta e alguma possível espécie que ali viva, posso imaginar as possibilidades de ganho que poderei ter. Posso extrair madeira, colher frutos, caçar algum animal para comer ou para criar em cativeiro, enfim, são infinitas as possibilidades. No entanto, qualquer que seja das duas inclinações, a que eu escolher, eu estarei, invariavelmente, agindo de forma moral, e considerando meus valores e juntamente a importância que dou. A atitude ética é isenta nesse sentido, pois através de uma análise minuciosa posso compreender que a importância de manter a mata em pé e o animal vivo e livre é muito maior do que eu fazer o contrário, a minha inclinação em causar um prejuízo qualquer que seja para me trazer algum benefício não pode de forma alguma se sustentar através de uma perspectiva ética, isenta e amoral – que não envolve interesses hegemônicos e trata as questões de forma holística.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Divagações

Estava me questionando sobre alguns assuntos e me veio à mente uma questão interessante. Em realidade não me lembro ao certo o que desencadeou esse pensamento, mas sei que foi uma coisa que à primeira vista não teria uma conexão direta; eu falava de outro assunto, quando pensei: podemos supostamente pensar que em termos de imaginação nossa mente é ilimitada, no entanto, é bem sabido que não é. Ela apenas transforma, aumenta ou diminui; transcende, imagina, porém, ela trabalha apenas com o que lhe é fornecido pelas impressões sensíveis à que é submetida. Mesmo que imaginemos algo que não tenha uma existência real, como por exemplo, um elefante gigante voador, o que fizemos apenas foi utilizar apenas o que concebemos, a saber, o elefante gigante, e voador. É uma questão de associação. Mas, ela sendo limitada nesse sentido, quer dizer que tudo o que ela pensa é possível, mesmo que tal afirmação pareça absurda.

De uma forma análoga e estendendo o pensamento podemos considerar a seguinte questão: a ciência química, através de sua alquimia pode produzir substâncias que não existem em nosso planeta. Questiono-me se nos recônditos do universo não possam existir tais substâncias, pois, se a mesma pode ser gerada, não é de se estranhar que a própria natureza já não tenha feito por si só. E, mesmo se por uma hipótese igualmente remota se considere que se tenha buscado em todo o universo e não tenha encontrado, ainda resta a hipótese de que, em um outro universo qualquer ela talvez exista, pois ela ainda repousa enquanto possibilidade; e quem sabe num outro universo a mesma exista e tenha uma função vital em sua existência, da mesma maneira em que, por exemplo, nosso universo contém outras substâncias em abundância. E de maneira análoga, qualquer substância que se possa produzir, igualmente repousará a possibilidade de existência, se não no nosso planeta ou universo, talvez em algum outro lugar.

Liberdade.

A Liberdade primeiramente aparece enquanto condição. Para se pressupor liberdade é primeiro necessário verificar se ela é possível enquanto condição. Uma das possíveis contradições de se fazer tal afirmação seria a de que, se a condição é que define a liberdade, logo, a liberdade daqueles que não podem outra coisa que senão viver dentro de suas condições não pode ser livre, ou então será menos livre do que aquele que, dentro de suas condições pode engendrar novas condições para ser livre.

Um bom exemplo disso é a distinção que existe entre ser autoconsciente e seres não conscientes. Se partíssemos do pressuposto afirmado acima considerando esta perspectiva, fatalmente incorreríamos em erro e em petição de princípio. Uma característica – independente que qual seja ela – não é o que define a liberdade de algo, mas é tão somente uma ferramenta à disposição para que sua liberdade possa ser manifestada. Dizer que por um Ser ser consciente de si o torna mais (ou menos, já que também existem os que afirmam que a consciência em si já impossibilita a liberdade, por ela ser fonte inesgotável de “condicionamentos”) livre é fatalmente afirmar esse próprio atributo como sendo auto-afirmatório e autosuficiente para afirmar a si mesmo como sendo algo que eleve todas as outras características em detrimento desta.

Em termos práticos, vamos considerar a seguinte sentença:

[b] Não possuo asas iguais à de um pássaro, portanto não poderei voar. Logo, não sou livre para voar como o pássaro. [/b]

Nesta situação, a pessoa por constatar que não possui asas como os pássaros e que, portanto, não poderá voar pode realmente ser considerado um aspecto de delimite a liberdade desta pessoa? Entendendo a Liberdade como Condição, podemos afirmar que não, pois:

1) Se a liberdade está dentro do que é possível realizar em determinadas condições, considerar o fato de eu não possuir uma asa como sendo uma restrição à minha liberdade é errôneo, pois, se não possuo asas de pássaro devo igualmente considerar que voar [i] com asas de pássaro [/i] não me é uma forma de liberdade, pois sequer existe a possibilidade de isto ser uma condição.

2) Em iguais situações, poderíamos afirmar, por exemplo, “não possuo um avião, portanto não posso voar de avião. Logo, não sou livre para voar de avião.” Esta situação sim seria uma constatação real de uma limitação, pois, o seu contrário é igualmente verdadeiro, e, assim como existe o avião (ao contrário de homens com asas de pássaro) existe também a possibilidade de um dia você voar em um, assim como a possibilidade de que você possua um.


Aqui cabe uma pergunta: como estendemos então essa concepção de liberdade para além dos seres conscientes?
Outra questão poderia ser aqui levantada em favor de encontrar uma contradição na concepção de liberdade enquanto condição é que, se um ser possui consciência ele pode engendrar outras formas de liberdade que um que não possui consciência não poderia fazê-lo. Mas aqui precisamos considerar que, como já foi esclarecida, a Liberdade enquanto condição não é igual a “liberdade de consciência”, pois, apesar de a consciência poder engendrar formas de liberdade (que, no entanto estão estritamente ligadas às “formas de ser livre” que é própria do entendimento dos seres conscientes) essa liberdade ainda assim ela estará limitada a existência de alternativas, ou seja, por mais que você valorize e considere diversas formas de ser livre diferentemente – diferente dos seres não conscientes – você terá inevitavelmente que escolher entre uma e outra, pois, aí se encontra o próprio limite da liberdade consciente.

Então entendo que a Liberdade de consciência não garante que a Liberdade seja maior ou menor que a de outros seres, mas, ao contrário, ela pode muitas vezes nos limitar e nos tornar menos livres do que somos e do que podemos ser.

Bom, é isso aí. Ainda preciso refletir mais sobre a questão.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O que é a Razão?


O que é a Razão?
Gostaria de iniciar este questionamento com outro questionamento:
É possível pensar sobre a Razão?

De pronto, penso que a maioria em que se deparasse com tal pergunta responderia de imediato que sim. No entanto, vamos analisar a decorrência de tal resposta, e o que acarreta sustentar tal afirmação.

Primeiro, vamos colocar como um pressuposto que a afirmativa de que é possível pensar sobre a razão infere que, mediante uma consciência reflexiva é possível inferir sobre o que a razão é e o que ela não é juntamente com o consentimento do que é racional e o que não é. Até então este é um raciocínio bem ponderado. Então podemos concluir que temos o poder de atribuir razão a algo, assim como temos o poder de não atribuir razão alguma ou tirar a razão de algo que a tinha. Aqui é preciso pensar: aquilo à qual eu não atribuo razão é algo que não possui razão em si (sugerindo o fato de eu deixar de atribuir-lhe uma razão) ou apenas não possui razão seguindo meus critérios, assumindo que, talvez segundo outros critérios este algo possa ter alguma forma de razão? Para os que escolheram a primeira opção é preciso alertar-lhes que, mesmo que se atribua por critérios racionais que existem valores em essência, não seria possível alcançá-los através da razão, visto que, se a própria razão existe por si, não seria possível nem a apreensão dela mesma, muito menos dela mesma por ela mesma. Para os que escolheram a segunda opção, seguiremos adiante.

Até aqui temos que: a razão de algo é o quanto este algo tem de razão baseado em critérios que podem diferir uns dos outros, sem, contudo, não deixar de ser verdadeiro que ambos tenham sua parcela de razão. Mas, se é possível pensar sobre a razão (o que sugere que é possível predizer se algo tem razão ou não) e através dela concluo que algo pode ter razão mesmo que eu não lhe dê uma razão, entro inevitavelmente numa contradição. Pois com esta conclusão é possível afirmar sempre o oposto daquilo que se tem como certo, sem com isso lhe tirar a sua parcela de razão inerente; o mesmo que afirmar que: se é possível pensar sobre a razão é igualmente impossível pensar sobre ela. E, sob certos critérios esta afirmativa é tão correta quanto incorreta. Mas, sobremodo, é aqui onde eu queria chegar.

A origem do paradoxo está na conclusão de que a razão é algo que pensa. E isso nos leva a uma inevitável petição de princípio que seria o de usar a razão para dizer o que a razão é. Antes de pensarmos no que concerne à atribuição da razão a algo, devemos questionar: o que é este algo que diz o que é racional e o que não é? Hoje se entende que a razão é algo pensado não algo que pensa. A razão é uma ferramenta da mente, algo que atribuímos às coisas através dos processos cognitivos mentais. Portanto, a resposta adequada à pergunta “é possível pensar sobre a razão” é: sim, é possível pensar sobre a razão, pois antes há algo que pensa, eis porque é possível dar razão a algo, até mesmo a própria razão! 

Do que tratar?

Bem, gostaria de dizer que pretendo aqui tratar de tudo o que me convier. Tendo como tendência predominante a de tratar de questões que dizem respeito à Filosofia. Sendo esta um campo extenso e abrangente para abordar todos os assuntos.