sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Liberdade.

A Liberdade primeiramente aparece enquanto condição. Para se pressupor liberdade é primeiro necessário verificar se ela é possível enquanto condição. Uma das possíveis contradições de se fazer tal afirmação seria a de que, se a condição é que define a liberdade, logo, a liberdade daqueles que não podem outra coisa que senão viver dentro de suas condições não pode ser livre, ou então será menos livre do que aquele que, dentro de suas condições pode engendrar novas condições para ser livre.

Um bom exemplo disso é a distinção que existe entre ser autoconsciente e seres não conscientes. Se partíssemos do pressuposto afirmado acima considerando esta perspectiva, fatalmente incorreríamos em erro e em petição de princípio. Uma característica – independente que qual seja ela – não é o que define a liberdade de algo, mas é tão somente uma ferramenta à disposição para que sua liberdade possa ser manifestada. Dizer que por um Ser ser consciente de si o torna mais (ou menos, já que também existem os que afirmam que a consciência em si já impossibilita a liberdade, por ela ser fonte inesgotável de “condicionamentos”) livre é fatalmente afirmar esse próprio atributo como sendo auto-afirmatório e autosuficiente para afirmar a si mesmo como sendo algo que eleve todas as outras características em detrimento desta.

Em termos práticos, vamos considerar a seguinte sentença:

[b] Não possuo asas iguais à de um pássaro, portanto não poderei voar. Logo, não sou livre para voar como o pássaro. [/b]

Nesta situação, a pessoa por constatar que não possui asas como os pássaros e que, portanto, não poderá voar pode realmente ser considerado um aspecto de delimite a liberdade desta pessoa? Entendendo a Liberdade como Condição, podemos afirmar que não, pois:

1) Se a liberdade está dentro do que é possível realizar em determinadas condições, considerar o fato de eu não possuir uma asa como sendo uma restrição à minha liberdade é errôneo, pois, se não possuo asas de pássaro devo igualmente considerar que voar [i] com asas de pássaro [/i] não me é uma forma de liberdade, pois sequer existe a possibilidade de isto ser uma condição.

2) Em iguais situações, poderíamos afirmar, por exemplo, “não possuo um avião, portanto não posso voar de avião. Logo, não sou livre para voar de avião.” Esta situação sim seria uma constatação real de uma limitação, pois, o seu contrário é igualmente verdadeiro, e, assim como existe o avião (ao contrário de homens com asas de pássaro) existe também a possibilidade de um dia você voar em um, assim como a possibilidade de que você possua um.


Aqui cabe uma pergunta: como estendemos então essa concepção de liberdade para além dos seres conscientes?
Outra questão poderia ser aqui levantada em favor de encontrar uma contradição na concepção de liberdade enquanto condição é que, se um ser possui consciência ele pode engendrar outras formas de liberdade que um que não possui consciência não poderia fazê-lo. Mas aqui precisamos considerar que, como já foi esclarecida, a Liberdade enquanto condição não é igual a “liberdade de consciência”, pois, apesar de a consciência poder engendrar formas de liberdade (que, no entanto estão estritamente ligadas às “formas de ser livre” que é própria do entendimento dos seres conscientes) essa liberdade ainda assim ela estará limitada a existência de alternativas, ou seja, por mais que você valorize e considere diversas formas de ser livre diferentemente – diferente dos seres não conscientes – você terá inevitavelmente que escolher entre uma e outra, pois, aí se encontra o próprio limite da liberdade consciente.

Então entendo que a Liberdade de consciência não garante que a Liberdade seja maior ou menor que a de outros seres, mas, ao contrário, ela pode muitas vezes nos limitar e nos tornar menos livres do que somos e do que podemos ser.

Bom, é isso aí. Ainda preciso refletir mais sobre a questão.

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