terça-feira, 27 de outubro de 2009

REALIDADE E FENÔMENO

Todo fenômeno é o desdobramento de uma realidade. Em sendo assim, o fenômeno é a realidade, porém, enquanto fenômeno ele representa uma manifestação da mesma. Toda a apreensão de uma realidade é uma representação fenomenológica da realidade. Tal realidade pode ser absorvida, fenomenologicamente, por diversas perspectivas. Por exemplo, a olho nu posso observar uma realidade qualquer, como por exemplo, a água correndo por dentre as brechas do asfalto e indo em direção a uma vala qualquer. Tal realidade será uma representação. Ela não se encerrará numa afirmação qualquer, por mais que ela seja verdadeira. Não posso observar a olho nu, por exemplo, que a água é feita de duas partículas de hidrogênio e uma de oxigênio, no entanto, independente disso não poderei afirmar que esta é uma irrealidade, nem tampouco uma realidade de valor inferior. Pois eu poderia ser incauto o suficiente para pensar que a realidade que me é aparente é então por primazia a realidade única a que devo me reportar, uma vez que todo ser é dotado dos mesmos sentidos e meios para apreender a realidade e que tal realidade pode ser então observada por todos independente de outros níveis de percepção que ela possa demonstrar. No entanto, essa afirmação encerraria uma petição de princípio que se sustentaria apenas na autoridade de que aquilo que nos é primeiramente apreendido é a própria expressão da realidade. (Em verdade, tem-se como certo que o ser humano é o único capaz de apreender alguma realidade. - mesmo que eles, entre si, não comunguem com as mesmas noções adquiridas. (curioso, não?))

Poderia também pensar o oposto: uma vez demonstrado que dentro de um determinado fenômeno há diversas realidades, ou diversos fenômenos outros, a minha própria seria então mera ilusão, mero acidente da percepção. Mas estaria também incorrendo em erro, pois o fato de um fenômeno ser somente uma forma em particular de apreender uma realidade não implica necessariamente que as outras formas que me escapam são mais reais que a que é fruto de minhas percepções primárias.

Tal entendimento pode se analisado de maneira pouco criteriosa, gerar uma dualidade. Pois poderíamos colocar diante desse entendimento as seguintes questões: 1) sendo o aparato de percepção somente suficiente para apreender uma realidade fragmentada, independente dos meios que eu utilize para observar um fenômeno (vide o exemplo da água – pois com um microscópio posso aumentar meu poder de percepção e ver que a água é composta de três pequenas partículas) não deixarei de utilizar meus próprios aparelhos sensitivos primários, só que aumentados por meio de outra ferramenta. 2) o que me remete ao fato de que independente de quantos fenômenos eu possa abarcar dentro de uma realidade, nada me garantirá que terei uma representação da realidade em si mesma, mas apenas terei uma representação de uma realidade com um número maior de fenômenos descritos.

Porém, devo entender que, sendo o fenômeno uma representação da realidade, ele por mais que descreva muitas facetas da mesma não terá o poder de abarcar ela toda. O fato de ela ser um fenômeno automaticamente infere na limitação da infinita descrição dos fenômenos, na busca de um princípio mais básico até que se possa encontrar um princípio mais universal que possa expressar a realidade enquanto um fenômeno único e fixo. Tal entendimento, mesmo que distante (penso eu sinceramente que impossível de ser apreendido dada a sua limitação natural, pois para eu poder apreender todo o fenômeno teria que buscar nas causas mais primárias dos elementos da natureza, o que me levaria a buscar cada vez uma causa mais particular até que se chegue à questão da própria existência, da própria manifestação do fenômeno – e sendo os meios de percepção uma parte do próprio fenômeno, qualquer explicação que se dê para tal questão seria tão somente uma explicação tautológica, eis o que penso ser a limitação inerente à percepção) não nos dá autoridade também para definir que este princípio seja a representação fiel da realidade última, mas tão somente outra constatação da própria realidade.

Pois então, o mais ponderado quando se fala em realidade é entender os fenômenos de maneira holística, como complementares à própria realidade. A realidade não é a somatória de todos os fenômenos, porém dentro da realidade, os fenômenos são desdobramentos um do outro; e para entender a realidade é necessário entender a ligação que há dentre um fenômeno e outro.
Devemos considerar que, quando se fala em realidade se fala em fenômeno. Falar em realidade em si mesma é falar de realidade fora do fenômeno. É falar daquilo que está além da própria percepção.(e de qualquer uma)

Não há irrealidade no fenômeno, justamente por ele ser um desdobramento do real. Ele é o que aparece (o aparente), pois a realidade é em si mesma uma aparição.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Divagações VI

A partir do momento em que nos inclinamos a emitir um juízo sobre algo ou alguém, nos tornamos responsáveis por garantir – tanto a quem diz quanto a si mesmo – de que estamos, não obstante, com o deter de um conhecimento que se possa expressar, e não só isso, e que este venha a preencher as lacunas que se formam mediante determinado juízo ou afirmação.
Se eu afirmo que determinado alguém é, por exemplo, mal caráter devo demonstrar ser isso verificável, não somente por força da afirmação; pelo contrário, estaria sendo, no máximo, um caluniador, um que fala “da boca pra fora”. Ou seja, meu desinteresse para com a verdade emitida pelo meu juízo é igualmente mensurável a percepção e critério para formar um juízo sobre algo ou alguém.
Em sendo assim, me pergunto: que jurisdição eu possuo para formar juízo sobre algo qualquer se nem mesmo me debruço para entender os seus pormenores?

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Divagações V

Antes só do que acompanhado e mal compreendido.

Quanto mais próximos somos de alguém mais pensamos que o conhecemos. No entanto, quanto mais perto de algo estamos, mais dificilmente conseguimos tomar suas verdadeiras dimensões. Da mesma maneira que alguém colado a um muro enorme não terá noção de sua dimensão olhando-o de perto. Na mesma medida, a proximidade que temos de alguém nos torna míopes, nos faz enxergar apenas o que é conveniente, o que está mais evidente. Por isso algumas vezes é necessário o Distanciamento.