sábado, 12 de setembro de 2009

Ética - analisando

Não é enganoso afirmar que, em se considerando razoáveis condições de convivência que possibilitem uma moral imanente ao comportamento cultural, seria tranquilamente comum a todos a aceitação de que não se deve matar, da mesma maneira que havemos de concordar que também não se deve roubar a propriedade alheia. De certo que estas considerações podem ser feitas e respondidas por qualquer um que seja independente do tipo de instrução ou grau de reflexão que o mesmo tenha se prestado ao assunto. Este é uma reação básica do comportamento moral, não é necessário ser Ético para não desejar a morte de outrem, nem tampouco para não prezar pelo seu prejuízo ou sendo a si próprio o causador do mesmo. No entanto, a raiz do comportamento Moral distingue-se da noção do que é Ético. A Ética está relacionada com a análise, a reflexão e a prática; advém do pensamento filosófico, ao passo em que na moral a prevalência é a do pensamento cornuto, ou raciocínio simples, sendo no máximo um pensamento linear dedutivo – aquele que se atém a princípios axiomáticos que devem dar conta de toda e qualquer situação – que é possível através do acúmulo de conhecimento e através da memória.

Um que é Moral não pode ser Ético, na medida em que sua atitude é somente um impulso básico de reação mimética, uma repetição cultural. É fácil observar esta diferença quando se nota que há menos de cinqüenta anos atrás havia um tremendo abismo entre grupos sociais diferentes e que reinava uma forma de moral que impunha e defenestrava a outra, fazendo valer de uma moral que corroborava suas ações; foi assim com os negros, com as mulheres, com os homossexuais; atualmente a luta é em prol do direito dos animais, e, o que há em comum, apesar da mudança de perspectiva, é que, mesmo hoje estes grupos tendo assegurado certa parte dos seus valores e direitos, isso é corroborado por uma moral e não por uma acepção ética. O próprio fato de que tenhamos que assegurar os direitos e defender valores já infere diretamente na ausência da ética e da prevalência da moral. Por exemplo, se eu afirmo que todos merecem direitos iguais por serem iguais, por mais que eu tente encontrar um algo que eu possa universalizar para assegurar de alguma forma essa igualdade de direito, não poderia fazer isso senão afirmando uma moral que a corrobore; visto que, de início afirmo que para garantir a igualdade de direitos tenho que encontrar um fator universal, visto que, além de ser uma busca sem fim, é parcialidade tentar encontrar a igualdade na universalização em detrimento à diferença, a alternância, ou seja, parte-se de um erro que tenta tornar-se generalização para definir uma suposta identidade de igualdade; esta atitude é essencialmente antiética, apesar de ser naturalmente aceitável por qualquer um. Tratar uma questão com equidade não significa que terei de usar para todos o mesmo peso e a mesma medida. A universalização está na medida da Condição, e é a partir dessa que poderemos traçar uma unidade de ação ética. Cada um ao passo de suas necessidades e limitações, eis a medida do justo que é, por conseguinte, a medida do ético. Para ser ético tenho que ser justo, mas não poderei ser justo se eu não for ético.

Uma diferença relevante é: a moral é temporal, se delimita e se funde num espaço de tempo, tão quando se faz condições para que ela se construa e permaneça, até que um dia se dissipe como é de sua natureza. Há evidentemente exemplos de morais que permaneceram e permanecem a existir desde há muito tempo, um exemplo desse prolongamento é a moral cristã, que promulga seu reinado ainda em grande parte do globo, de forma direta ou indireta. Dentre outras tantas morais religiosas.

No que concerne à discussão acerca dos juízos morais, eles normalmente caem no relativismo temporal e cultural – eis sua raiz intrínseca. Ou seja, sendo a Moral relativa á certa época ou lugar, mesmo engendrando-se na noção de que é justo ou injusto bom ou mau, se limita à cartilha que forma seu estatuto social, seus costumes sociais juntamente com suas práticas e noções passadas de geração para geração.

A Ética nesse sentido é um agente atemporal. Ela analisa as condições para que uma ação tenha o estatuto de certo ou errada, justa ou injusta, não se limitando a determinação cultural que a promulga, podendo lançar um olhar mais amplo e irrestrito.


Valores ambientais, Ética e Moral Cultural

Tendo em vista a impossibilidade de protelar o problema do meio-ambiente atualmente o assunto é foco de debates á nível mundial, de uma forma que nunca teria sido possível anteriormente; uma razão é que, explorar o meio ambiente sempre – e principalmente atualmente – foi lucrativo, e está na essência da nossa cultura ocidental a idéia do homem como sendo aquele que tem o poder de dominar a natureza, de dar a ela finalidade e utilizá-la como assim quiser. O que garantiu - e ainda garante – por tanto tempo essa “supremacia” é a idéia de que o ser humano por ser racional – sendo a racionalidade uma instância superior que dá ao ser humano poder e direito de dominar – detém essa supremacia e superioridade, juntamente com a idéia de que o ser humano é um ser divino, e, portanto, um ser de uma extirpe superior diferente da animalidade encontrada no mundo e nas diversas espécies e manifestações. Mesmo esta última sendo apenas defendida por um grupo restrito, a primeira é amplamente defendida: a de que a Razão nos eleva além de nossa natureza animal.

Esses planos de longo prazo se demonstraram não só frágeis como também amplamente inverossímeis e falaciosos. O ser humano não só é um animal, como também depende do mundo tão quanto à sobrevivência das outras espécies como um todo. Com a destruição dos ecossistemas que interagem de maneira holística, toda a vida animal, humana e não humana – vai sofrendo conseqüências e perdas, eis o perigo iminente do aquecimento global. O ser humano está começando a entender de maneira fria e realista que sua irresponsabilidade com suas ações, vão trazer altos prejuízos – além dos que já nos trouxe - e muitos deles irrevogáveis.

É preciso elevar o debate para além da questão Moral, da questão dos valores ou dos benefícios. A questão moral se limita na avaliação das ações tendo em vista o valor que atribuímos à determinada ação. Não preciso considerar ser errada a destruição de uma mata virgem ou uma espécie que vive nela para me ater no pensamento de que não vou fazer aquilo, simplesmente porque, se procuro ser justo devo considerar a questão além das minhas inclinações pessoais sobre aquele assunto. Exemplificando, eu posso ser uma pessoa que admira fazer uma trilha em meio a uma paisagem selvagem, e que eu contemple a natureza em todas às suas dimensões e, dessa forma, jamais me inclinaria a tomar uma atitude que cause algum dano àquele lugar. Ou talvez ao contrário, eu ao ver a floresta e alguma possível espécie que ali viva, posso imaginar as possibilidades de ganho que poderei ter. Posso extrair madeira, colher frutos, caçar algum animal para comer ou para criar em cativeiro, enfim, são infinitas as possibilidades. No entanto, qualquer que seja das duas inclinações, a que eu escolher, eu estarei, invariavelmente, agindo de forma moral, e considerando meus valores e juntamente a importância que dou. A atitude ética é isenta nesse sentido, pois através de uma análise minuciosa posso compreender que a importância de manter a mata em pé e o animal vivo e livre é muito maior do que eu fazer o contrário, a minha inclinação em causar um prejuízo qualquer que seja para me trazer algum benefício não pode de forma alguma se sustentar através de uma perspectiva ética, isenta e amoral – que não envolve interesses hegemônicos e trata as questões de forma holística.

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